Ato Cívico contra o Rodoanel Norte
Manifestação, dia 16 de junho, sábado, pretende esclarecer sobre os prejuízos sociais e ambientais que a obra trará à cidade de São Paulo. Organizadores lembram que os R$ 6,5 bi permitiriam a construção de 24 km de metrô, 162 km de monotrilho ou 1.100 km de corredores de ônibus
Lideranças comunitárias e ambientalistas convocam um Ato Cívico contra o Rodoanel Norte. O ato público acontecerá no dia 16 de junho, sábado, das 14h às 16h, na área livre ao lado da Biblioteca de São Paulo, junto à estação de metrô Carandiru.
Na reunião, os militantes pretendem esclarecer a opinião pública sobre os problemas que a megaobra provocará ao delicado sistema da Serra da Cantareira e às áreas de amortecimento do Parque Estadual da Cantareira, além de alertar para as interferências no clima de toda a cidade.
A convocação do ato coincide com a divulgação de denúncias do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, de que as obras do Rodoanel Sul teriam servido para financiar a campanha política de Geraldo Alckmin (PSDB), Gilberto Kassab (PSD) e José Serra (PSDB), segundo reportagem publicada pela revista IstoÉ.
Os organizadores do Ato Cívico lembram também que a obra vai estimular o uso do automóvel particular, na contramão da tendência mundial de reduzir o carro no meio urbano: com os R$ 6,5 bilhões destinados ao projeto do Rodoanel Norte seria possível construir 24 km de metrô convencional (valor médio/km), 162 km de monotrilho semelhante ao que está sendo feito na extensão da linha 2-Verde e na linha 17-Ouro, ou ainda 1.180 km de corredores de ônibus. Por que não investir esses recursos em transporte coletivo em vez de realizar mais uma obra de estímulo ao carro particular?, questionam os militantes.
A seguir, uma lista com 17 pontos, compreendendo problemas sociais, econômicos e ambientais que serão provocados pelo trecho norte do Rodoanel. Confira:
1. A obra será uma agressão ao maior patrimônio ambiental da cidade, a Serra da Cantareira, área decretada pela Unesco como Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
2. Contramão histórica: numa época de busca de sustentabilidade, é o que se pode dizer da proposta de construção de uma megaestrada tão próxima à área urbana (trechos a 11 km do centro), para o trânsito de carros e caminhões. “Será uma nova avenida Marginal, paralela à Marginal do Tietê”, dizem especialistas.
3. Discutível benefício para o trânsito paulistano, em função do tráfego recolhido por essa obra, que deixaria de adentrar a cidade. Há estudos que mostram que esse benefício seria irrisório, se comparado aos transtornos ambientais e ao custo financeiro.
4. Chegada de enorme quantidade de gases, materiais particulados e ruído urbano a uma região intacta, de preservação ambiental e de mananciais. Significa levar poluição intensa à área de preservação.
5. A proposta do Ferroanel, recém anunciada pelos governos estadual e federal, a começar exatamente no Trecho Norte, contempla a retirada de cargas pesadas do centro da cidade, a um custo de obra 4 vezes menor: R$ 1,2 bilhão. Para que o Rodoanel, se virá o Ferroanel, que pode ter um projeto ampliado, com centros de abastecimento e descarga para os produtos com destino à Região Metropolitana de São Paulo?
6. Risco gravíssimo ao abastecimento de água a 55% de toda a população da Grande São Paulo, uma vez que o traçado proposto intercepta os troncos de abastecimento que saem da ETA Guaraú, na Pedra Branca, a maior estação de tratamento de água do Brasil.
7. O tramo Norte estaria passando em trechos a apenas 11 km do centro da cidade, enquanto em outras regiões está a mais de 20 km do centro. O seu trajeto se dá praticamente só por área de mata e terrenos livres, significando impermeabilização de uma enorme área (exemplo: Faz. Santa. Maria, no Tremembé), cujo recalque de água causará enchentes , sobrecarregando córregos que afluem ao Tietê.
8. São 44 km de estrada, com um calibre de obra de 150 metros, sem considerar as áreas de canteiro de obras, passando por enormes áreas semi.rurais e verdes em São Paulo, Guarulhos e Arujá, impactando a saúde e a qualidade de vida de toda a Grande São Paulo.
9. A demanda de tráfego nesse trecho já foi assumida pelo governo como menor do que nos outros trechos. Assim não se justifica os enormes custos financeiros e ambientais anunciados para a obra. Em termos de mobilidade urbana, é discutível a prioridade do investimento inicial de R$ 6,5 bilhões nessa obra, e não na construção de mais linhas de metrô e corredores de ônibus.
10. A serra da Cantareira cumpre funções de equilíbrio climático indiscutíveis. A colocação desse colar de asfalto e concreto junto a sua área reduzirá esse benefício à região metropolitana que, historicamente, não deu atenção a um planejamento equilibrado. A temperatura de São Paulo, que tem na serra da Cantareira um atenuador natural, subirá inevitavelmente.
11. Prejuízo a fauna e flora únicas presentes em todo o maciço do Parque Estadual da Cantareira, principalmente em suas áreas de amortecimento, preconizadas em seu Plano de Manejo, gerando mortandades que não podem ser desconsideradas em um momento em que todo o planeta advoga a adoção de medidas de sustentabilidade. Todo o bioma da região metropolitana, já tão frágil, sofrerá tremendamente com essa obra.
12. Retirada de milhares de pessoas de suas residências, construídas ao longo de uma vida.
13. Desconsideração sumária da expressiva manifestação contrária à obra, nas diversas audiências públicas realizadas.
14. Afetação de próprios públicos, como a Emef Hélio Cel. Hélio Franco Chaves, da Capela Histórica de Três Cruzes e da Associação Cultural e Agrícola da Cachoeira (criada em 1928), na divisa de São Paulo com Guarulhos, todos com valor comunitário. Desrespeito com o acervo histórico da primeira estação de abastecimento de água da cidade, na Vila Rosa, atual Clube da Sabesp, onde o traçado está anunciado.
15. Infração às regras do Plano Diretor da Cidade de São Paulo.
16. A dúvida de se o Parque Estadual da Cantareira resistirá a uma obra que a transfigura, com a passagem de túneis sob sua área, com concentração de poluentes nas áreas de respiro dos túneis.
17. A falta de estudos de todos os impactos acima apontados, com um natural olhar macro para a região da Grande São Paulo, considerando qualidade de vida e saúde pública como variáveis indispensáveis e inegociáveis, com grande peso, nas análises e decisões de investimentos.
Mais informações no Blog Rodoanel (http://rodoanelnorte.wordpress.com/)
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