A curiosa relação custo-benefício do automóvel Diesel
A curiosa relação custo-benefício do automóvel Diesel
Rubens Avanzini
No Brasil, a informação de consumo de combustível é amplamente ignorada pelo consumidor no ato da compra de um automóvel. Porém, quando se trata de empresa, principalmente frotista, é um dos fatores decisivos na escolha do modelo. Outro item motivador é o custo de manutenção e, finalmente, o preço do carro, propriamente dito. A ordem pode ser diferente, mas quando se trata de pôr as contas no papel, estes são os três principais fatores a serem considerados na relação custo-benefício.
O preço do carro é um valor direto, o primeiro a saltar aos olhos. Neste quesito, o carro a Diesel leva desvantagem, pois apresenta custo ligeiramente superior ao similar ciclo Otto (gasolina). O passo seguinte é calcular os custos operacionais (combustível e manutenção) e aí está o pulo do gato do motor Diesel: ele é mais econômico e durável. Isso significa que roda mais quilômetros por litro de combustível e seu motor é robusto.
Em relação ao consumo, automóveis a gasolina consomem em média 36% mais combustível que um modelo similar a Diesel com injeção direta de combustível, sistema Common Rail e controle eletrônico. Com álcool esse número sobe para 58%.
Os veículos convertidos para GNV apresentam consumo médio 37% maior quando comparados com os carros a Diesel, sendo que a conversão para o GNV gera perdas de mais de 10% nos valores de torque e potência dos motores, isso para não mencionar o espaço ocupado pelos cilindros, que normalmente encontram no bagageiro do veículo a sua colocação preferencial.
Os dados técnicos e valores citados são demonstrados nesta tabela, onde podemos, também, observar uma estimativa do custo (R$/100 km) para os diversos combustíveis:
Combustível | Consumo l/100km | Diferença em consumo | Custo R$/l (5) | Custo R$/100km | Vantagem em custo |
diesel(1) | 5,8 | Referência | 2,010 | 11,66 | Referência |
gasolina(2) | 9,1 | + 36,0% | 2,480 | 22,48 | 48,1% |
álcool(3) | 13,9 | + 58,4% | 1,388 | 19,35 | 39,8% |
GNV(4) | 9,2 | + 37,0% | 1,585 | 14,59 | 20,1% |
(1) Mégane 1,5l dC (76 kW / 103PS) - Fonte: Leitfaden zu Kraftstoffverbrauch und CO2
(2) Mégane 1,6l 16V (82 kW / 112 PS) - Verband der International Kraftfahrzeugehersteller e. V. VDIK
(3) Fonte: NETZ Engenheiros Associados
(4) m³/100km - R$/m³ - dados comparativos de consumo
(5) Preço médio Brasil período: de 28/06/2009 a 04/07/2009
Para se garantir a plausibilidade dos dados e chegar a esta conclusão, foram considerados os valores de consumo na Europa de um automóvel equipado com motor Diesel ou Otto e os preços dos combustíveis conforme valores oficiais da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Um frotista, que nestas circunstâncias roda 50 mil km por ano, gastaria R$ 5.830 com Diesel. Com gasolina, o custo subiria para R$ 11.240. No álcool, gastaria um pouco menos: R$ 9.675; enquanto no GNV, a conta ficaria mais próxima, porém, no caso, há o investimento inicial da adaptação do veículo e motor, que seria algo equivalente ao maior preço do carro Diesel.
Assim hoje o carro Diesel seria financeiramente mais interessante para quem usa o carro de forma intensiva, como, por exemplo, taxistas, frotistas e empresas.
A Petrobras está investindo maciçamente na melhoria do combustível, tanto Diesel quanto gasolina, principalmente para retirar o enxofre. Isso é muito bom para o meio ambiente e para a sociedade
Tanto o carro a Diesel quanto a gasolina apresentam hoje tecnologia para garantir níveis mínimos de emissões de gases poluentes. Por isso, a sociedade deve focar a discussão não apenas em gases poluentes, mas na condição da matriz energética já que, num futuro próximo, devemos considerar também a economia de combustível e o uso cada vez maior de combustíveis renováveis.
O Brasil tem uma vantagem muito grande quando se fala em combustíveis renováveis. Devido à proibição ao carro a Diesel, o desenvolvimento de combustível renovável para os motores Otto saiu na frente, porém agora com a eletrônica controlando os motores de ciclo Diesel e aplicando-se o que foi aprendido com o ciclo Otto, abre-se uma oportunidade excelente também para o Diesel. Neste campo, várias iniciativas promissoras já estão
Assim, precisamos repensar realmente a nossa postura em relação à liberdade de escolha da tecnologia que queremos usar em nosso dia-a-dia. Não há sentido em proibir uma tecnologia que pode acrescentar vantagens àquelas já conquistadas pela nossa sociedade em relação aos meios de transporte e motores de combustão interna. A realidade mudou e o cenário macroeconômico brasileiro também. Hoje é muito diferente daquele de quase 33 anos atrás. Nós, brasileiros, ainda não podemos, por livre arbítrio, decidir que tecnologia queremos utilizar, pois existe a proibição do carro Diesel no Brasil. Será que não devemos ter o direito à livre escolha?
*Rubens Avanzini é coordenador da Comissão Técnica de Tecnologia Diesel da SAE BRASIL
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