Projeto São Francisco protege biodiversidade da caatinga

O bioma caatinga tem uma surpreendente diversidade de vida animal, que está sendo desvendada e conservada por meio do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. “O Projeto São Francisco está dando a oportunidade de revelar o que é realmente a caatinga. Nós temos aqui mais de 30 espécies de formigas, entre 280 e 300 de aves e outras 48 de répteis, só para dar alguns exemplos”, avalia o professor Luiz Cezar Machado Pereira, pesquisador da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), cuja equipe trabalha para conservar espécies da Fauna e da Flora nativas, protegendo-as durante a construção do canal. No total, o Projeto inclui 36 Programas Básicos Ambientais foram criados para minimizar os impactos ambientais da construção dos canais do Eixo Norte, projetado para rasgar 426 quilômetros da caatinga, e do Eixo Leste, de 287 quilômetros.

O resgate de centenas de espécies com vida só é possível graças ao apuro do critério técnico. Com ele vêm as surpresas. A própria comunidade científica sempre achou que a caatinga era pobre, por exemplo, em anfíbios. Não é. Um exemplo é a presença da perereca verde, da espécie Phyllomedusa nordestina, não esperada na caatinga. Num só dia de trabalho, os técnicos encontraram 30 exemplares dela. Mais uma demonstração de que as informações da comunidade científica sobre a caatinga são “escassas”, na avaliação do professor Luiz Pereira. “A conservação da natureza acontece quando se protege e se leva desenvolvimento à comunidade. Isso é desenvolvimento sustentável”, defende Pereira.

A expectativa em torno da publicação de trabalhos sobre esse bioma, daqui para frente, é grande, principalmente no campo da zoologia. Em breve surgirão trabalhos científicos informando com riqueza de detalhes técnicos, por exemplo, que a caatinga é similar ao cerrado brasileiro em relação à diversidade das espécies de mamíferos que ocorrem em cada um desses biomas.

Multidisciplinar – Biólogos, arqueólogos, botânicos, engenheiros vêm colecionando surpresas no canteiro de obras. Há trechos de caatinga que parecem danificados pela ação humana, mas isso não é verdade. O rareamento da vida selvagem é natural. “Para entender isso é preciso entender de solo, de geologia, de relevo, fauna, flora, arqueologia e a comunidade humana atual. É preciso interação de conhecimentos. Não dá para separar”, explica Pereira.

Primeiro, os técnicos dividem a área em talhões (lotes) e precisam seguir uma escala cronológica para suprimir a vegetação nesses talhões. Antes do corte da vegetação, porém, a equipe de fauna afugenta principalmente os animais vertebrados (mamíferos de médio e grande porte como veado caatingueiro, e o tamanduá- mirim). “A passagem dos arqueólogos antes da equipe de fauna e flora é importante para avaliar o que havia no local há 10 mil, 20 mil anos.


Assim, o Ministério da Integração Nacional segue as instruções do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que concedeu a licença para a implantação do projeto, a chamada LI (Licença de Instalação). A LI determina que toda a supressão da vegetação no canal e reservatórios tem que ser acompanhada de resgate da fauna e do germoplasma (recursos genéticos de uma espécie). Para acontecer o resgate é preciso haver um bom plano de supressão vegetal. “As duas ações têm que ser muito concatenadas”, enfatiza o pesquisador da Univasf.

O Projeto – O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é um empreendimento do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, destinado à assegurar a oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do Semi-árido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do rio onde se dará a captação. Este montante hídrico será destinado ao consumo da população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro estados do Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver vertendo, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo para o aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.

O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de Cabrobó – PE, percorrerá cerca de 400 km, conduzindo água aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao cruzar o estado de Pernambuco este eixo disponibilizará água para atender as demandas de municípios inseridos em 3 sub-bacias do rio São Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região do Brígida, no oeste de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110km de comprimento que derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu.

O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta – PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220 km até o rio Paraíba – PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um ramal de 70 km que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.

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